USP deixa de produzir a “pílula do câncer”

04 de abril de 2016

O laboratóriodo IQSC-USP (Instituto de Química de São Carlos, da USP) no qual estava sendo produzida a fosfoetanolamina, suposta “pílula do câncer”, foi fechado na última sexta-feira (01).

A medida foi tomada pela universidade porque o único funcionário responsável por sintetizar a molécula foi deslocado temporariamente para um laboratório de Cravinhos (SP), onde serão produzidas remessas das pílulas que servirão para testes preliminares de sua eficácia em seres humanos.

A USP afirmou que a patente da fosfoetanolamina é de propriedade de um professor aposentado da universidade — o químico Gilberto Chierice—e do servidor antes mencionado, “de modo que a USP não pode produzir a substância, sob pena, inclusive, de responsabilização penal dos envolvidos”.

A universidade afirmou ainda, em nota, que “não é um aindústria química ou farmacêutica e que não tem condições de produzir a substância em larga escala”.

A Folha apurou que apenas três pessoas conheciam bem o processo de produção da“fosfo”, como ficou conhecida a substância: Chierice e dois técnicos que trabalhavam com ele. Um deles aderiu ao programa de demissões voluntárias da USP e não está mais na universidade.

O outro,Salvador Claro Neto, que fez seu doutorado em química sob orientação de Chierice, era o responsável por abastecer a demanda pela molécula gerada pela onda de decisões judiciais que surgiu a partir de 2015.

Diversas liminares passaram a determinar que a USP fornecesse a fosfoetanolamina a pacientes com câncer, mesmo sem dados científicos que corroboras sem sua eficácia e segurança como medicamento contra a doença.
Desde então,tanto o governo federal quanto o do Estado de São Paulo se mobilizaram para tentar testar cientificamente a ação da pílula.

Já o governo paulista determinou que o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira) conduzisse ensaios clínicos com a molécula num grupo inicial de dez pacientes humanos, que poderá ser ampliado caso haja bons resultados.

Para que esses testes possam começar,a Secretaria de Saúde de São Paulo remanejou Claro Neto temporariamente para o laboratório PDT Pharma, em Cravinhos, que ficará responsável por produzir a “fosfo”utilizada nos ensaios clínicos. Segundo a assistência técnico-administrativa do IQSC, depois que o químico auxiliar o laboratório nesse processo, poderá voltar a produzir a molécula em São Carlos.

Em entrevista à EPTV, afiliada da Rede Globo no interior do Estado,Claro Neto declarou que deverá passar cerca de um mês fora de São Carlos. “Nós estamos num vácuo. A ida para Cravinhos equivale a parar de fazer para 400 pessoas para fazer para 13 mil”, disse ele.

Impurezas Enquanto isso, porém, a USP não está mais cumprindo as ordens judiciais de fornecer as pílulas aos pacientes. Isso fez com que doentes, seus advogados e familiares tentassem obter a fosfoetanolamina indo diretamente ao laboratório do IQSC nos últimos dias, sem sucesso.

Embora Chierice tenha afirmado que o método de produção das pílulas desenvolvido por seu grupo permite obter a “fosfo” com “altíssimo grau de pureza”,não foi isso o que mostraram avaliações independentes das pílulas, realizadas por pesquisadores da Unicamp a pedido do governo federal.

Segundo tais análises, as pílulas não possuem a massa indicada (supostamente seriam 500 mg, mas a média real fica em torno de 300 mg) e seu conteúdo é uma mistura de componentes—a fosfoetanolamina propriamente dita corresponde a apenas uns 30% do que está presente na pílula.

Fonte: Folha de S.Paulo (Reinaldo José Lopes)

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